Os Mundukuru estão ameaçados pela construção da Ferrogrão, ferrovia que atende aos interesses estrangeiros na região
Por Lilian Campelo
Brasil del Fato. 19 de diciembre, 2017.- Os Munduruku são conhecidos como hábeis estrategistas na arte de guerrear. Há cerca de quinze dias, eles venceram mais uma batalha. Os indígenas conseguiram que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) cancelasse uma audiência pública que discutiria a implementação da Ferrovia EF-170, conhecida como Ferrogrão, projetada para ligar os estados de Mato Grosso e Pará.
O empreendimento impacta o território indígena e os Munduruku não foram previamente consultados, como denuncia Alessandra Korap Munduruku, liderança da Associação Indígena Pariri.
“A gente sabe o que vai trazer para o nosso território, para o rio; é uma forma dos estrangeiros [empresas] entrarem, principalmente os chineses, e a soja é o que está matando os povos indígenas de todo o Brasil. Para ter a soja é preciso desmatar, contaminar o rio, precisa derrubar, expulsar os ribeirinhos e os indígenas e isso a gente não aceita”, enfatiza.
O empreendimento atende à expansão da fronteira agrícola e é destinado a ser um grande corredor logístico de soja e milho. A região do Tapajós, sudoeste paraense, é almejada pelo agronegócio para se tornar rota estratégica para a exportação de grãos, produzidos no Centro Oeste, com saída pela região Norte ao oceano. A rota atenderia com mais eficácia os consumidores em países da Europa e China, principais parceiros do Brasil.
Mas, além da Ferrogrão, existem hidrelétricas, portos, hidrovias, rodovias e pedidos de alvarás de exploração minerária ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM). A situação é retratada no livro A Geopolítica de Infraestrutura da China na América do Sul: um estudo a partir do caso do Tapajós na Amazônia Brasileira, da autora Diana Aguiar, educadora popular da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE).
A pesquisadora cita o caso do Complexo do Tapajós, que visa a construção de seis hidrelétricas, todas em Itaituba, sudeste paraense. As usinas instaladas forneceriam energia para indústrias de mineração e as barragens formariam grandes lagos tornando o rio navegável, ponto favorável ao agronegócio.
“Acaba tendo uma convergência de interesses entre o capital construtor, que tem interesse na concessão das hidrelétricas para construí-las, o capital elétrico, que quer ter a concessão da gestão das hidrelétricas, das mineradoras, que vão utilizar essa energia para instalar grandes empreendimentos minerários na região e, ao mesmo tempo, esse capital de escoamento do agronegócio que tem interesse na formação desses grandes lagos que daria navegabilidade ao rio”, esclarece Aguiar.
Como um efeito dominó, outros empreendimentos que atingem os indígenas estão em curso na região. Um deles é o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 119/2015, que autoriza a exploração do Rio Tapajós como hidrovia.
Através da hidrovia, outro corredor logístico de grãos se abriria. O projeto tramita na Câmara dos Deputados e está pronto para ser apreciado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Casa.
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Edição: Camila Salmazio
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